Originalmente publicado em 4 de Junho de 2020
Um relatório divulgado quarta-feira pelo Conselho Internacional de Enfermagem (ICN) conclui que mais de 600 enfermeiros morreram em todo o mundo na epidemia do coronavírus e estima que 450.000 profissionais de saúde de todos setores tenham sido infectados.
O número de mortes entre os enfermeiros já é mais que o dobro das 260 relatadas em 6 de maio pelo ICN, em parte porque mais países divulgaram relatórios, mas principalmente pelo impacto continuado da pandemia, que já atingiu 6,5 milhões de pessoas em todo o mundo, com mais de 380.000 mortos.
A associação de enfermagem com sede em Genebra afirmou que não existe uma verdadeira contagem do número de profissionais de saúde infectados, pois as agências de saúde de muitos países não estão computando mortes e infecções por ocupação. O ICN reuniu estatísticas de alguns países e relatórios pontuais de outros para chegar à estimativa mínima de 230.000 trabalhadores de saúde infectados. A estimativa mais alta, de 450 mil infectados, se baseia na constatação de que 7% dos casos de COVID-19 são de trabalhadores da saúde e na subtração desses 7% do total de 6,5 milhões de casos relatados.
As taxas de infecção entre profissionais de saúde são particularmente altas na América Latina, ao mesmo tempo em que na Irlanda 30% de todos os casos são de profissionais de saúde. Em outros países, incluindo Espanha e Alemanha, as taxas de infecção e fatalidade dos profissionais de saúde são muito mais baixas. Os Estados Unidos parecem estar na faixa mais alta do espectro – estimativas iniciais determinavam que 10 a 20 por cento dos infectados eram profissionais de saúde – mas não há números atuais que abranjam todos os 50 estados.
O ICN renovou seu apelo aos governos nacionais para que realizem registros abrangentes e intensifiquem o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual e outras medidas para proteger os enfermeiros na linha de frente da luta contra a pandemia.
"Há semanas estamos solicitando os dados de infecções e mortes entre enfermeiros", diz a declaração. "Precisamos de um banco de dados central com números confiáveis, padronizados e comparáveis entre si sobre todas as infecções, períodos de quarentena e mortes direta ou indiretamente relacionadas à COVID-19... Sem esses dados não conseguiremos saber o verdadeiro custo da COVID-19 e isso nos tornará menos capazes de enfrentar outras pandemias no futuro".
O relatório do ICN também observa a ocorrência "desproporcional de mortes entre [trabalhadores da saúde] negros, asiáticos e de minorias étnicas", particularmente trabalhadores filipinos na Grã-Bretanha.
O relatório alarmante do grupo de enfermagem surgiu no momento em que o total global de infecções aumentou em mais de 100.000 novos casos pelo quinto dia consecutivo, um crescimento sem precedentes que está concentrado no hemisfério ocidental: Brasil, Chile, Peru e México, assim como nos Estados Unidos. O diretor da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou: "Há várias semanas, o número de casos relatados diariamente nas Américas tem sido superior ao do resto do mundo inteiro junto".
Ele citou em particular o Brasil e o Peru, enquanto o Dr. Mike Ryan, que dirige o programa de emergências de saúde da OMS, expressou preocupação com um surto crescente no Haiti, ainda em seus estágios iniciais. O México relatou seu maior aumento no número de casos COVID-19 em um único dia, 3.891. O Brasil reportou um recorde de 1.262 novas mortes causadas pelo coronavírus, elevando seu total para 31.199, o terceiro maior do mundo, com 550 mil casos confirmados, atrás apenas dos EUA.
Outras zonas de crescimento alarmante incluem a Índia, que registrou 9.614 novos casos, elevando o total para bem mais de 200 mil.
Enquanto isso, o impacto do coronavírus nos Estados Unidos continua em escala massiva, embora quase não seja relatado na mídia nacional em meio à convulsão política desencadeada pelo assassinato de George Floyd pela polícia em Minneapolis. Enquanto o número de mortes diárias diminuiu em Nova York, Nova Jersey e Michigan, os epicentros iniciais, mais de 1.000 pessoas ainda estão morrendo todos os dias de COVID-19 nos Estados Unidos.
O crescimento mais rápido está nos estados do sul e oeste, os primeiros a realizarem a reabertura da economia e de forma mais ampla, tendo encerrado quase todos os lockdowns até meados de maio.
De acordo com a última atualização da Universidade Johns Hopkins, 20 estados americanos têm sofrido aumentos diários nas taxas de novos casos de coronavírus, incluindo a Califórnia, o estado mais populoso, que teve 17.000 novos casos na semana passada, seu maior número semanal desde que a pandemia começou. Somente o condado de Los Angeles foi responsável por 10.000 casos.
No Centro-Oeste, Wisconsin registrou o maior número de novos casos em um único dia, 483, elevando o total do estado para 19.400, com 616 mortes.