Publicado originalmente em 2 de novembro de 2020
O WSWS está publicando os discursos dos principais membros do CIQI e colaboradores do WSWS no evento online realizado em 25 de outubro para saudar o relançamento do site realizado em 2 de outubro de 2020. Bryan Dyne escreve sobre ciência para o WSWS.
Gostaria de aproveitar esta oportunidade para falar sobre a abordagem do WSWS em relação à ciência. Nos últimos nove meses, essa abordagem aconteceu principalmente através de nossa cobertura da pandemia do coronavírus. Começando com os primeiros artigos publicados em janeiro, fizemos uma análise muito cuidadosa do significado médico deste novo vírus e sua intersecção com a sociedade. Foram publicados tanto artigos sobre a situação política quanto matérias sobre a epidemiologia do próprio vírus.
Em contrapartida, o governo Trump, os democratas e seus semelhantes ao redor do mundo ignoraram essencialmente a ciência, e todos procuraram minimizar e ocultar a ameaça representada pela transmissão do vírus. Como tal, fomos a única tendência política a alertar logo no início sobre os perigos que a classe trabalhadora enfrentava se o vírus pudesse se espalhar pelo mundo e a exigir uma resposta de emergência coordenada globalmente para a pandemia do coronavírus.
Esses alertas foram tragicamente confirmados: mais de 1,15 milhão de seres humanos estão mortos em todo o mundo e a vida social de bilhões de pessoas foi totalmente alterada.
Esses números expõem as fortes contradições na sociedade moderna entre os imensos avanços que foram realizados na medicina durante o século passado e as barreiras colocadas à aplicação desses avanços na vida cotidiana sob o capitalismo. Em um mundo racional e cientificamente planejado, uma doença emergente e potencialmente causadora de uma pandemia não seria negligenciada durante semanas e meses para proteger o mercado de ações, mas seria imediatamente disponibilizado todos os recursos para conter o patógeno, tratar os infectados e assegurar o sustento das centenas de milhões de pessoas que seriam afetadas pelas consequências econômicas.
A lacuna entre o que a ciência diz que seria bom para a humanidade e o que está acontecendo sob o capitalismo existe em todas as áreas da ciência – na medicina, assim como na física, na biologia e na astronomia, para citar algumas. Como observamos em nossa recente cobertura de amostras coletadas de um asteroide pela nave espacial OSIRIS-Rex, “é quase incalculável os resultados que seriam oferecidos à nossa vida” se os recursos para a guerra e os lucros fossem voltados para a exploração e a descoberta científica.
De forma mais ampla, nosso foco sobre a ciência desde a criação do site em 1998 decorre de nossa insistência de que a classe trabalhadora, para avançar, deve estar armada com uma compreensão profunda do mundo. Esse é um ponto que os marxistas sempre enfatizaram. O desenvolvimento da sociedade como um todo é baseado no desenvolvimento das forças produtivas, que, por sua vez, impulsionam e são estimuladas pelo desenvolvimento da ciência. A tecnologia através da qual estamos tendo este encontro, a Internet, tornou-se tão difundida em grande parte devido ao surgimento da produção transnacional no início dos anos 1990, o que proporcionou uma necessidade econômica para a capacidade de armazenar e acessar informações de qualquer parte do mundo.
Não se trata, entretanto, simplesmente de, por exemplo, um trabalhador da indústria automobilística conhecer a mecânica, a engenharia elétrica, a ciência dos materiais e a termodinâmica que tornam o movimento de um carro possível. Há uma necessidade de voltar-se para uma abordagem científica não apenas dos fenômenos naturais, mas de compreender os igualmente complexos processos históricos e sociais que regem nossas vidas – as leis objetivas do desenvolvimento capitalista.
Tais estudos são ainda mais necessários em um mundo dominado pela incessante glorificação do irracionalismo, seja através do fomento do atraso e do obscurantismo religioso, ou da promoção do pós-modernismo. Os trabalhadores devem lutar contra todos aqueles que negam que o conhecimento objetivo existe, que de alguma forma a realidade é criada através da linguagem. Se isso fosse verdade, a afirmação de Trump no verão de que “com menos testes teríamos menos casos” teria significado o fim da pandemia.
Os trabalhadores devem também estar na vanguarda na luta contra todas as tentativas de dividi-los usando conceitos anticientíficos, como o conceito de raça. Como temos escrito extensivamente no WSWS, não há base para o conceito de diferentes “raças” de seres humanos, seja no registro antropológico, que mostra uma grande migração humana e uma mistura de até mesmo centenas de milhares de anos atrás, ao próprio DNA, que na verdade não pode ser usado para revelar a “raça” ou a nacionalidade de alguém.
Como muitos trabalhos científicos recentes sobre o tema têm enfatizado, a única solução real para deter o aquecimento global e todas as suas catástrofes atuais e futuras é a reorganização da produção de energia e da infraestrutura de transporte em nível global e do desenvolvimento de novas tecnologias para deter imediatamente as emissões de carbono.
Também insistimos que a luta por um meio ambiente seguro deve rejeitar qualquer solução para a crise climática que exija uma vasta redução da “população excedente” mundial. Tais atitudes malthusianas negam o fato de que não foi a “humanidade” que levou a biosfera do mundo à beira do colapso, mas as barreiras comuns do capitalismo e do sistema de estados-nação que impediram quaisquer esforços sérios para reverter o aquecimento global.
Impulsionado inexoravelmente por suas contradições internas, o capitalismo está levando a humanidade para o abismo de pragas, guerra mundial, catástrofe ambiental e ditadura. Essas mesmas contradições, porém, também produzem o fundamento para a derrubada do capitalismo: a classe trabalhadora internacional.
Como Trotsky destacou há 94 anos em Rádio, Ciência, Técnica e Sociedade, “A técnica e a ciência têm sua própria lógica – a lógica do conhecimento da natureza e o domínio da mesma em prol dos interesses do homem. Mas a técnica e a ciência não se desenvolvem no vácuo, mas na sociedade humana, que é uma sociedade de classes. A classe dominante, a classe possuidora, controla a técnica e, através dela, controla a natureza.”
Nossa cobertura de ciência, agora mais acessível do que nunca com o relançamento do WSWS, procura tornar esses processos objetivos mais conscientes para impregnar a crescente oposição de milhões de trabalhadores e jovens com o conhecimento e a compreensão de que o progresso da ciência – e o progresso da humanidade como um todo – depende do ressurgimento de um novo movimento revolucionário da classe trabalhadora. Nosso movimento une sob sua bandeira tanto a busca da verdade científica em todas as suas formas quanto a luta para estabelecer um sistema de planejamento econômico internacionalmente coordenado e cientificamente orientado, baseado na igualdade e na satisfação da necessidade humana: o socialismo.