Publicado originalmente em 9 de abril de 2021
Na semana passada, o presidente fascista do Brasil, Jair Bolsonaro, substituiu figuras importantes de seu gabinete e do comando militar. As mudanças são preparativos para a repressão de toda a oposição em meio aos recordes de casos e mortes pela COVID-19 e apenas semanas após uma onda de greves de trabalhadores de ônibus, petroleiros, entregadores de aplicativo e professores.
O número de mortos pela COVID-19 do país atingiu 340 mil na quarta-feira, o segundo maior do mundo, em meio a recordes de novos casos e mortes. Houve 460 mil novos casos e 20 mil mortes na semana passada, e espera-se que o número de mortes seja ainda maior esta semana, depois que o número diário de mortes ultrapassou 4 mil mais de uma vez. O Brasil é responsável por uma em cada quatro mortes por COVID-19 registradas no mundo diariamente e lidera o mundo no número médio diário de mortes.
Em meio à resposta incompetente e indiferente à pandemia, a crise política dentro da classe dominante está se intensificando. Todas as suas frações estão empenhadas em garantir a exploração ininterrupta da classe trabalhadora. Isso tem sido expressado pelos esforços conjuntos do jornal Folha de São Paulo e do governo do estado de São Paulo, que estão distorcendo dados da COVID-19 antes da reabertura das escolas, prevista para 12 de abril.
Na semana passada, a Folha relatou um novo estudo supostamente comprovando que não houve mudança significativa nos casos e mortes após a reabertura de escolas no estado de São Paulo no ano passado. Em seu esforço para promover essa tese, o artigo da Folha mostrou que a reabertura foi realizada em alinhamento com a política de imunidade do rebanho de Bolsonaro.
O estudo intitulado "Reabrir escolas na pandemia não aumentou incidência e mortalidade de COVID-19 no Brasil" utiliza dados da COVID-19 do período entre outubro e dezembro de 2020 de 131 cidades que reabriram escolas, comparando-os com um período anterior. Ele também compara essas cidades com outras que não reabriram durante o mesmo período.
O estudo se baseia principalmente na taxa de crescimento de casos dentro da população total de cada cidade, o que, quando comparado com o universo muito menor das comunidades escolares, torna impossível afirmar o quanto elas foram especificamente impactadas pela reabertura.
Além disso, os autores não discutem o efeito do número de alunos sobre os seus resultados. Eles simplesmente argumentam que a estimativa de que "cerca de dois milhões de alunos foram à escola" não deve deixar dúvidas sobre sua conclusão, ignorando o fato de que os "protocolos de segurança" do governo permitiam aproximadamente mais um milhão de alunos dentro das salas de aula. O impacto que tal aumento teria não é mencionado, assim como o efeito de novas variantes do coronavírus, que se tornaram dominantes desde dezembro.
O jornal citou Guilherme Lichand, o autor principal do estudo, dizendo que os indicadores não pioraram, "não apenas porque as comunidades escolares representam uma pequena fração da população geral, mas também porque a mobilidade já era substancial, fazendo com que benefícios marginais para a saúde de manter as escolas fechadas sejam insignificantes no total".
Segundo o artigo de Lichand, "dados de triangulação de torres de celular atestam que, em grandes cidades como São Paulo, a mobilidade nunca esteve abaixo de 50% mesmo durante os períodos mais rigorosos de lockdown". Em outras palavras, o contágio foi tão grande durante o segundo semestre de 2020 que nenhuma diferença foi vista nos casos e mortes da COVID-19.
A Folha só é capaz de promover tal estudo porque é indiferente ao fato de que centenas de milhares de pessoas estão sendo infectadas e morrendo devido à pandemia do coronavírus. Em meio à campanha de Bolsonaro para pôr fim até mesmo às restrições parciais de estados e municípios decretadas para evitar um colapso do sistema de saúde, o artigo da Folha equivale a defender a política fascista do presidente de manter todos os setores da economia abertos e aceitar as suas conseqüências mortais.
Desde o ano passado, a grande mídia tem feito uma campanha contra a inclusão das escolas em quaisquer restrições contra o coronavírus, fingindo cuidados com a "saúde mental infantil". Ela envolveu a promoção do movimento Escolas Abertas, apoiado por poderosos interesses na educação privada e no governo estadual. O Escolas Abertas defende até hoje a idéia desacreditada de que crianças transmitem o vírus menos do que adultos.
Essa campanha está sendo realizada em conjunto com o governo estadual de São Paulo, com a notícia da Folha tendo sido publicada em 30 de março, três dias após o governador João Doria do direitista Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) declarar a educação uma atividade essencial, pressionando os prefeitos a reabrirem as escolas, e um dia antes do governo estadual autorizar a reabertura de escolas locais e particulares a partir de 12 de abril.
Desde então, no dia 7, em meio a relatos de que 30 das 39 cidades da Região Metropolitana de São Paulo haviam registrado um aumento em sua média móvel de mortes nos últimos 15 dias, com um aumento de 236% em Diadema e taxas ainda mais altas em outras cidades, o Centro de Contingência do governo declarou que está avaliando uma extensão da "fase emergencial" do estado. Essa fase supostamente rigorosa proíbe as reuniões à noite e restringe alguns tipos de comércio, ao mesmo tempo em que permite a reabertura das escolas.
Em fevereiro, a administração Doria criou a "Comissão Médica da Educação". A comissão coexiste com o Centro de Contingência do Coronavirus, tendo sido ostensivamente formada "para tratar especificamente de assuntos restritos à Educação". A comissão foi criada para acelerar a campanha de retorno, que fracassou em impor o ensino presencial no ano passado em meio a enorme oposição entre professores e pais. Ela foi preenchida com figuras a favor do retorno às aulas presenciais em meio ao maior surto da pandemia do coronavírus até hoje.
O primeiro relatório epidemiológico da comissão, baseado no período entre janeiro e março, afirma que as taxas de incidência do coronavírus seriam 33 vezes menores nas escolas públicas e privadas do que no estado, implicando ser mais seguro levar as crianças à escola do que mantê-las em casa.
O que o relatório não menciona deliberadamente é que o período considerado inclui 37 dias de escolas fechadas durante o período de férias de janeiro até o início de fevereiro, trazendo apenas uma pequena porcentagem dos que foram reprovados em 2020. O relatório também pressupõe falsamente que 100% dos alunos freqüentaram as escolas durante esse período.
Significativamente, o relatório apresenta uma baixa taxa de incidência de COVID-19 entre os trabalhadores da educação ao calculá-la em relação a toda a população de estudantes. Essa tentativa enganosa de declarar um baixo contágio de professores e funcionários está sendo levada adiante enquanto o governo estadual está promovendo uma campanha de vacinação completamente inadequada entre os educadores, o que inclui apenas professores acima de 47 anos de idade, e exige que os funcionários das escolas comprovem que estão dentro do grupo de risco. A vacinação parcial desses trabalhadores, que não atenderá à necessidade de vacinar todos os estudantes, professores e famílias, é a mais recente tentativa de justificar a reabertura para que os pais voltem ao trabalho.
Por trás da promoção do estudo de Lichand pela Folha e das manobras de Doria para distorcer os dados da COVID-19 e vacinar uma pequena porcentagem da comunidade escolar existe o acordo essencial com a campanha de Bolsonaro, contra qualquer medida para proteger a população do vírus que possa afetar os lucros dos ricos.
Até uma semana atrás, trabalhadores da educação estavam sendo pressionados a entrar em edifícios inseguros por meses sob a ameaça de serem demitidos por não cumprirem a política criminosa do estado, enquanto muitos estudantes dependiam de frequentar as escolas para se alimentar. A reabertura das escolas em meio ao maior surto de coronavírus até hoje resultaria no contágio e em mortes entre estudantes, professores e suas famílias.
Os esforços para impor a abertura das escolas levaram a uma enorme oposição entre professores e funcionários das escolas, forçando os sindicatos nos estados populosos do Sudeste e Sul do país a iniciar greves "pela vida" em fevereiro e março. Em São Paulo, onde centenas de milhares de professores estaduais e municipais em greve chamaram por uma greve geral e uma luta unificada contra o retorno às escolas, e em meio a chamados de greve entre professores das escolas particulares, a APEOESP e o SINPEEM, os sindicatos dos professores da rede pública de São Paulo, trabalharam para dividir os professores e impedir que sua oposição se expandisse para outras seções da classe trabalhadora.
Em março, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) declarou: “Não observamos alteração da condição política nem segurança sanitária para fazer um retorno às aulas presenciais”, admitindo abertamente que a "defesa da vida" dos sindicatos é apenas uma tática alternativa na estratégia de reabertura da classe dominante.
Os esforços dos sindicatos para subordinar a oposição dos professores à justiça do estado foram expressos no último artigo da APEOESP sobre a reabertura em 1º de abril, intitulado "Secretário [de Educação Rossieli Soares]: cumpra decisão judicial de não retorno às aulas presenciais integralmente". No estado vizinho do Rio de Janeiro, professores e funcionários escolares estão em greve há meses, enquanto o Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação (SEPE) tem mantido sua luta isolada.
No estado de Santa Catarina na região Sul, onde dezenas de milhares de professores entraram em greve há duas semanas, o SINTE-SC está tentando controlar a oposição. Durante uma entrevista com uma rádio local, uma autoridade do sindicato declarou que "não cabe à SED [Secretaria de Estado da Educação] decretar a greve ilegal, cabe à Justiça".
Em contraste com a sabotagem dos sindicatos, na cidade industrial de Araraquara, onde um lockdown de 18 dias resultou em uma queda nos casos e em zero óbitos nos últimos dois dias, os professores municipais viram a extensão dessa medida como crítica para os seus interesses, com 80,2% aprovando uma greve, iniciada na segunda-feira contra a reabertura de escolas anunciada para 12 de abril.
Os professores devem romper com os sindicatos, que têm o objetivo de suprimir e dividir a oposição à reabertura das escolas. Os trabalhadores da educação só podem vencer essa luta através de organizações controladas por eles próprios, comitês de base, unidos com professores e educadores de outros estados e internacionalmente, em oposição às políticas mortais que priorizam o lucro capitalista e não a vida.