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Trabalhadores da saúde entram em greve no Piauí

Publicado originalmente em 27 de junho de 2020

As condições inseguras de trabalho criadas pela disseminação descontrolada do coronavírus estão levando cada vez mais trabalhadores à luta em diferentes regiões do Brasil.

Na quinta-feira, os profissionais da saúde do Piauí, no nordeste do país, deflagraram uma greve por tempo indeterminado. Eles denunciam a falta de pagamento do adicional de insalubridade de 40% e a baixa qualidade dos equipamentos de proteção individual (EPI).

A greve acontece no momento em que o estado atinge um pico no número de casos de COVID-19. A Secretaria de Saúde do Piauí registrou, até a última quinta-feira, 18 mil casos confirmados. Mas outra pesquisa feita pela própria secretaria estima que o número real seja superior a 300 mil. Há menos de um mês, esse número não passava de 4 mil.

Trabalhadores da saúde protestam em frente ao Hospital Estadual Alberto Torres no Rio de Janeiro

Em todo o país, foram registrados 1,3 milhão de casos confirmados de coronavírus até a última sexta-feira, com o número de mortos acima de 56 mil. Mais uma vez, o país registrou o maior número do mundo de novos casos - 46.907 - e novas mortes - 1.055. Esses dados estão sendo relatados por um consórcio de agências de notícias que coletam dados de estados brasileiros enquanto o governo do presidente fascista Jair Bolsonaro tenta ocultar a dimensão da catástrofe da COVID-19.

Com o aumento no número de doentes, os profissionais de saúde estão ainda mais expostos e sobrecarregados. Desde o início de junho, os trabalhadores no Piauí já faziam protestos em hospitais da capital e do interior para denunciar suas condições de trabalho e cobrar o adicional de insalubridade.

Até agora, o governo do estado, liderado por Wellington Dias, do Partido dos Trabalhadores, não atendeu as reivindicações da categoria. Em vez disso, o Tribunal de Justiça do Piauí considerou "abusivo" o movimento dos trabalhadores e proibiu a greve, sob pena de multa diária de R$ 10 mil ao Sindicato dos Enfemeiros, Auxiliares e Técnicos em enfermagem (Senatepi).

No Rio de Janeiro, uma greve dos profissionais de saúde é iminente diante da crise profunda no estado. Atualmente, mais de três mil trabalhadores estão trabalhando com os salários atrasados e alguns já estão deixando de ir trabalhar por falta de dinheiro.

Num vídeo gravado durante um protesto em frente ao Hospital Estadual Alberto Torres, uma das unidades, uma trabalhadora diz que está sofrendo ameaças por denunciar as condições de trabalho. "Estamos sem pagamento, sem dinheiro de passagem. Estamos sendo ameaçados por botar nossa cara aqui. O hospital fala que não sabe de nada, e a gente fica sem nenhum respeito aqui. Se o pagamento não sair, ninguém vai trabalhar.".

Segundo dados do Ministério da Saúde, entre 1º de março e 1º de junho, 83 mil dos cerca de 2 milhões de profissionais de saúde do Brasil foram infectados pela COVID-19. O país tem uma das maiores taxas de contaminação por COVID-19 em profissionais de saúde. No mundo todo, a OMS estima que um total de 500 mil profissionais de saúde foram infectados com coronavírus.

Aonde vão os "investimentos" do governo

A mobilização dos trabalhadores da saúde acontece em meio a uma série de investigações de desvio de dinheiro público. Nesta semana, um empresário foi preso no Rio de Janeiro suspeito de desviar mais de R$ 9 milhões de recursos públicos entre 2012 e 2019. O desvio teria sido feito por uma 'Organização Social' (OS), um tipo de associação privada que recebe subsídios do governo. Os promotores do caso afirmam ter provas de que o empresário e sua família usaram o dinheiro dos hospitais para pagar um carro de corrida e uma festa de luxo.

Esse é apenas um dos vários escândalos de corrupção no sistema de saúde no Brasil. Uma reportagem de O Estado de Minas, publicada em 11 de junho, calculava um total de cerca de R$ 1,5 bilhão em contratos investigados pelas polícias Federal e Civil e pelo Ministério Público, por indícios de fraudes em compras e contratos assinados para enfrentar a pandemia da COVID-19.

As investigações apontam superfaturamento na compra de respiradores e na construção de hospitais de campanha. Além do Rio de Janeiro, há contratos sendo investigados em São Paulo, Santa Catarina, Ceará, Amapá, Roraima, Pará, Maranhão, Acre e Rondônia. Aproveitando o caráter emergencial da pandemia, os governos fazem contratos sem passar por um processo burocrático de aprovação, o que facilita ainda mais a corrupção.

O caráter generalizado desses crimes demonstra que o roubo dos recursos públicos é sistêmico e que até mesmo as supostas "boas ações" da classe dominante, como "investimentos" em saúde, são exploradas como um instrumento para se obter lucros ilícitos às custas de vidas humanas.

A luta contra a pandemia se torna, necessariamente, uma luta contra o Estado e o próprio sistema capitalista. Os trabalhadores da saúde, que desde o início da pandemia despontam como a linha de frente dessa luta, juntam-se cada vez mais aos seus companheiros de classe nas fábricas, nos frigoríficos, no transporte e em amplos setores da população.

Seus interesses só podem ser alcançados por uma mobilização política independente da classe trabalhadora brasileira, unificada ao movimento mundial dos trabalhadores que enfrentam essas mesmas condições, e assumindo uma direção socialista e revolucionária.

O autor também recomenda:

Construir comitês de base em fábricas e locais de trabalho pelo Brasil para impedir a transmissão da COVID-19 e salvar vidas!
[2 de junho de 2020]

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