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Perspectivas

5 anos da pandemia de COVID-19: A resposta do World Socialist Web Site

Publicada originalmente em inglês em 24 de março de 2025, esta declaração do World Socialist Web Site analisa os 5 anos da pandemia de COVID-19, e vem acompanhada de uma linha do tempo abrangente sobre esse período. Para se envolver na luta por um programa socialista de saúde pública, entre em contato conosco aqui.

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Cinco anos após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a COVID-19 como uma pandemia global em 11 de março de 2020, a doença continua a se espalhar pelo mundo, agravando o imenso sofrimento e as mortes já ocorridas. Cerca de 30 milhões de pessoas morreram em todo o mundo devido à COVID-19 e seus inúmeros impactos na saúde, e centenas de milhões de outras pessoas agora sofrem com a COVID longa. Essa catástrofe não era inevitável, mas resultou de decisões políticas deliberadas de governos capitalistas que priorizaram os lucros em detrimento de vidas humanas – uma forma de assassinato social em grande escala.

Desde os primeiros dias da pandemia, o Comitê Internacional da Quarta Internacional (CIQI), que publica o World Socialist Web Site (WSWS), alertou que, sem uma resposta global imediata e coordenada, a COVID-19 causaria um impacto devastador na vida humana. Nossas reportagens e análises foram baseadas em um estudo cuidadoso de pesquisas científicas conduzidas por epidemiologistas, virologistas e outros especialistas, cujos avisos foram sistematicamente ignorados pelos governos capitalistas.

Durante todo esse período, o WSWS lutou por uma abordagem científica para acabar com a pandemia, com base na estratégia de eliminação global, que implica a implantação universal de todas as medidas de saúde pública disponíveis para interromper a transmissão viral.

Este artigo traça o desenvolvimento da perspectiva e da resposta programática do WSWS à pandemia de COVID-19, desde o início até o presente. O histórico inigualável do WSWS é uma denúncia irrefutável da resposta capitalista à pandemia e um testemunho do fato de que, se um programa socialista de saúde pública tivesse sido adotado desde o início, a grande maioria das mortes e debilitações causadas pela COVID-19 poderia ter sido evitada e dezenas de milhões de vidas poderiam ter sido salvas.

Crise inicial, COVID Zero e “imunidade de rebanho”

Os primeiros meses da pandemia, do final de dezembro de 2019 ao início de abril de 2020, definiram claramente as duas estratégias dominantes em relação à pandemia: eliminação e “imunidade de rebanho”.

Em 23 de janeiro de 2020, enfrentando a crescente pressão de uma classe trabalhadora inquieta, as autoridades chinesas iniciaram a primeira política de eliminação, também conhecida como COVID Zero, do mundo, com 13 milhões de pessoas em Wuhan iniciando o primeiro lockdown em massa da história da humanidade. Essa política se expandiu por toda a província de Hubei e foi combinada com um programa de testes regulares em massa, rastreamento rigoroso de contatos, isolamento seguro de pacientes infectados, restrições de viagens e uso universal de máscaras, um conjunto abrangente de medidas de saúde pública criadas para interromper a transmissão viral. Setenta e seis dias depois, toda a sociedade chinesa saiu desses lockdowns e, em grande parte, retomou a vida normal.

Nesta foto de abril de 2020, funcionários do governo coordenam o transporte de viajantes de Wuhan para locais de quarentena designados em Pequim. [AP Photo/Sam McNeil, File]

O WSWS reconheceu desde cedo que essas medidas eram necessárias para conter o vírus. Em um artigo de 24 de janeiro de 2020, informamos pela primeira vez sobre o surto emergente e a resposta inicial na China. Em uma Perspectiva de 28 de janeiro de 2020, alertamos sobre os perigos do novo coronavírus e defendemos uma resposta científica. Em uma declaração do CIQI publicada originalmente em inglês em 28 de fevereiro de 2020, fizemos um chamado para “uma resposta de emergência coordenada globalmente para a pandemia do coronavírus que está se espalhando” e enfatizamos:

A solução deve ser global. É necessário permitir que cientistas de todo o mundo compartilhem suas pesquisas e tecnologias, livres dos “interesses nacionais” e dos conflitos geopolíticos que servem apenas para atrasar o desenvolvimento de contramedidas eficazes para conter, curar e erradicar o novo coronavírus. Todas as medidas de guerra comercial e sanções econômicas, como as impostas ao Irã, devem ser imediatamente suspensas. A nenhum ser humano deve ser negado tratamento médico urgentemente necessário devido às suas origens nacionais ou étnicas.

Em contraste, o governo Trump e outros governos capitalistas adotaram uma política de “negligência maligna” que logo se transformou na política fascista de “imunidade de rebanho” de infecção em massa deliberada, claramente baseada em concepções eugenistas e malthusianas. Como foi revelado posteriormente, o governo Trump foi informado em janeiro de 2020 sobre os imensos perigos que a COVID-19 representava, mas sistematicamente enganou o público sobre os perigos da doença, permitindo que a COVID-19 se espalhasse sem ser detectada.

Durante todo o mês de janeiro, quando a doença estava se espalhando globalmente, nenhum teste foi realizado nos Estados Unidos, apesar da ampla disponibilidade de testes para a COVID-19 na China. Os casos continuaram aumentando em fevereiro e, em março, os hospitais e necrotérios estavam lotados. Os trabalhadores começaram a fazer greves selvagens em fábricas no meio-oeste americano, forçando o fechamento de locais de trabalho e escolas.

Quase imediatamente, setores da elite dominante e sua mídia complacente começaram a exigir uma reabertura imediata. Em 22 de março de 2020, o New York Times publicou um editorial de Thomas Friedman que cunhou o novo mantra para a campanha de volta ao trabalho: “A cura não pode ser pior do que a doença”. Essa campanha ganhou força na semana seguinte, após a aprovação da Lei CARES, que iniciou o desvio de trilhões de dólares para os ricos, enquanto milhares de trabalhadores e aposentados logo estavam morrendo a cada dia.

Políticas semelhantes foram implementadas em toda a Europa. No Reino Unido, Boris Johnson inicialmente defendeu a “imunidade de rebanho” antes de ser forçado a implementar uma ordem nacional de permanência em casa. Na Suécia, o governo foi pioneiro na política de infecção em massa deliberada, mantendo escolas e restaurantes abertos, uma política que foi exportada para todo o mundo. No Brasil, o presidente de extrema-direita, Jair Bolsonaro, minimizou a COVID-19 como uma “gripezinha” enquanto o vírus devastava os bairros da classe trabalhadora do país.

A análise teórica do CIQI sobre esses acontecimentos foi fundamentada em uma compreensão marxista do Estado e das relações de classe. Em uma Perspectiva publicado originalmente em inglês em 17 de março de 2020, explicamos:

Dois interesses irreconciliáveis, de duas classes, se opõem um ao outro. Para os capitalistas, é uma questão de assegurar o interesse de seus lucros e que seus bens e riquezas permaneçam intocados. Nenhuma medida que entre em choque com seus interesses deverá ser adotada. A classe trabalhadora está preocupada com os interesses da ampla massa da humanidade, partindo das necessidades sociais, não do lucro privado.

Essa análise seria confirmada continuamente ao longo da pandemia.

A campanha de volta ao trabalho: Wall Street se delicia com a morte

Desde o início da pandemia, nos países em que a eliminação não foi buscada, todas as ações tomadas pela classe dominante foram ditadas pelos interesses da aristocracia financeira. Depois de não tomar nenhuma medida para proteger a vida da população, o governo Trump, com o apoio de todo o establishment político, realizou o maior resgate governamental da história para os ricos.

O presidente Donald Trump fala durante uma coletiva de imprensa sobre o coronavírus no Jardim das Rosas da Casa Branca, em Washington, em 13 de março de 2020.

Em seu discurso de abertura do Dia Internacional do Trabalhador Online de 2020 do WSWS, o presidente do Conselho Editorial Internacional do WSWS, David North, caracterizou a pandemia como um “evento desencadeador” na história mundial, que está “expondo a falência econômica, política, social e moral da sociedade capitalista” e “revelando o abismo intransponível que existe entre os oligarcas corporativo-financeiros que controlam e determinam as políticas dos governos capitalistas e as necessidades e interesses da classe trabalhadora”.

Explicando as forças econômicas subjacentes que impulsionam a campanha de volta ao trabalho, então em pleno andamento, North declarou:

Na nova versão da flexibilização quantitativa, as compras de ativos pelo Federal Reserve foram aumentadas para US$ 80 bilhões por dia.

A receita necessária para atender à vasta expansão da dívida do Federal Reserve exige a intensificação extrema da exploração da classe trabalhadora. É essa necessidade que está gerando a campanha midiática por um retorno ao trabalho, mesmo em condições que ameaçam a vida dos trabalhadores.

A entrega de trilhões de dólares à elite dominante evoca não apenas nojo e raiva generalizados. Ela mina todo o fundamento econômico e ideológico sobre o qual repousa a legitimidade do sistema capitalista. O capitalista, como é costume dizer, fornece o capital e assume o risco. Mas essas alegações não se sustentam. Os recursos financeiros são fornecidos pela sociedade e o risco é eliminado com a promessa de resgates infinitos.

A iniciativa de volta ao trabalho rapidamente se espalhou pelo mundo. Como os trabalhadores dos EUA foram forçados a voltar ao trabalho, Wall Street exigiu que a América Latina acelerasse ainda mais a produção. Em uma Perspectiva publicado originalmente em inglês em 15 de julho de 2020, observamos:

Agora, a campanha de “volta ao trabalho” está em pleno andamento nos EUA e os surtos generalizados transformaram os locais de trabalho americanos em armadilhas mortais, incluindo as plantas automotivas, frigoríficos, plantações e depósitos. Uma vez que os trabalhadores americanos são forçados a voltar ao trabalho, Wall Street está exigindo que a América Latina acelere ainda mais a produção.

Na Europa, políticas criminosas semelhantes foram implementadas. Na Alemanha, o governo pressionou pela reabertura apesar dos avisos de cientistas. Na Itália, epicentro do surto inicial da Europa, os trabalhadores foram forçados a voltar às fábricas, levando a novas ondas de infecções.

Em resposta, as seções europeias do CIQI — o Sozialistische Gleichheitspartei (Alemanha), o Socialist Equality Party (Reino Unido), o Parti de l’égalité socialiste (França) e o Sosyalist Eşitlik Grubu (Turquia) — emitiram uma declaração conjunta intitulada “Por uma greve geral para impedir o ressurgimento da COVID-19 na Europa!” A declaração expôs a política deliberada de infecção em massa em todo o continente e delineou um programa de luta para a classe trabalhadora europeia e internacional.

Enquanto forçavam suas populações a voltar ao trabalho e facilitavam a propagação do vírus, as elites dominantes internacionalmente tramaram a Mentira do Laboratório de Wuhan para tentar desviar a culpa para a China pelas infecções e mortes em massa que sabiam que resultariam de suas políticas criminosas.

Inicialmente formulada pelo assessor fascista de Trump, Steve Bannon, esta teoria da conspiração de extrema direita alegava falsamente que cientistas chineses trabalhando com colegas internacionalmente, como o Dr. Peter Daszak, foram os responsáveis por liberar a COVID-19 no mundo. Nos cinco anos da pandemia, essa teoria da conspiração totalmente desmentida está sendo novamente ressuscitada pelo New York Times e internacionalmente para atender às necessidades do imperialismo americano e europeu em seus preparativos para a guerra com a China.

Nacionalismo das vacinas e o lucro com a pandemia

O desenvolvimento de vacinas eficazes contra a COVID-19 até o final de 2020 foi um triunfo científico. No entanto, a distribuição dessas vacinas revelou a lógica brutal do capitalismo e do imperialismo.

O CIQI defendeu consistentemente a abolição das proteções de patentes sobre vacinas e tratamentos contra a COVID-19, ao mesmo tempo em que enfatizou que o desenvolvimento, a produção e a distribuição de vacinas devem ser retirados das mãos das empresas farmacêuticas e colocados sob propriedade pública e controle democrático. Expusemos como empresas farmacêuticas como Pfizer, Moderna e AstraZeneca estavam lucrando imensamente com a pandemia enquanto o acesso a vacinas que poeriam salvar vidas era negado a bilhões de pessoas.

A análise do WSWS sobre o nacionalismo das vacinas foi fundamentada em uma compreensão marxista do sistema capitalista global. Explicamos como a pandemia intensificou a exploração imperialista e como a luta pela equidade global de vacinas era inseparável da luta contra o capitalismo e o imperialismo.

A catastrófica onda da variante Delta na Índia

As consequências da abordagem da pandemia voltada para o lucro foram demonstradas de forma mais trágica durante a catastrófica onda da variante Delta na Índia entre março e junho de 2021, onde a estratégia de “imunidade de rebanho” supervisionada pelo governo fascista de Modi levou a uma estimativa de mais de quatro milhões de mortes em excesso em apenas três meses.

À medida que a crise se aprofundava, o WSWS publicava artigos diariamente documentando as cenas horríveis que desdobravam na Índia: hospitais sobrecarregados, falta de oxigênio, cremações em massa e um governo que deliberadamente ocultava a verdadeira situação da crise. Em uma Perspectiva publicada originalmente em inglês em 23 de abril de 2021, escrevemos:

A catástrofe na Índia, é preciso enfatizar, é uma catástrofe global diante de um vírus que não respeita nenhuma fronteira nacional e não precisa de passaporte. A decisão dos governos do mundo, com os Estados Unidos e outras potências imperialistas à frente, de abandonar qualquer esforço sistemático para deter a propagação da pandemia criou condições nas quais a COVID-19 foi capaz de sofrer mutações e desenvolver cepas mais virulentas e potencialmente resistentes às vacinas. A menos e até que haja um esforço global coordenado e baseado na ciência para erradicar a COVID-19, orientado à proteção da vida e não ao lucro capitalista, este processo continuará. As centelhas do atual incêndio pandêmico na Índia provocarão incêndios em todo o mundo. Na realidade, casos da variante indiana de dupla mutação [Delta B.1.617.2] estão sendo relatados agora na América do Norte, na Europa e no Oriente Médio.

Familiares rezam ao lado da pira funerária de uma vítima da COVID-19, em um crematório de Srinagar, no norte da Índia, em 25 de maio de 2021.

A onda da variante Delta na Índia também ressaltou as questões do nacionalismo das vacinas e da exploração da pandemia. Enquanto países ricos acumulavam vacinas, a Índia e outras nações em desenvolvimento ficaram sem suprimentos adequados.

O CIQI lidera a luta pela eliminação global

Desde o início da pandemia, o CIQI defendeu uma estratégia de eliminação global, baseada na compreensão científica de que a COVID-19 depende de um hospedeiro humano para se propagar e a única maneira de suprimir a doença é cortando todas as vias de transmissão.

Em uma Perspectiva publicada originalmente em inglês em 21 de agosto de 2021, o WSWS argumentou:

A única estratégia viável é a erradicação com base nas políticas propostas pelos principais epidemiologistas, virologistas e outros cientistas durante toda a pandemia. A erradicação exige a implementação universal de cada arma no arsenal das medidas para combater a COVID-19, coordenada em escala global, para erradicar o vírus de uma vez por todas.

Esta declaração crítica também criticou os vários programas “mitigacionistas” que estavam então em vigor em diversos países, que os definiu como “uma coleção amorfa de medidas que tenta negociar entre as realidades do vírus e os interesses financeiros das elites dominantes”, observando que isso equivale à “epidemiologia do meio termo”.

A declaração enfatizou:

A mitigação é para a epidemiologia o que o reformismo é para a política capitalista. Assim como o reformista alimenta a esperança de que reformas graduais e parceladas irão, com o tempo, diminuir e amenizar os males do sistema baseado no lucro, os mitigadores alimentam a ilusão de que a COVID-19 acabará se desenvolvendo em uma doença não mais nociva do que a gripe comum. Isso é um delírio completamente apartado da ciência da pandemia.

Na realidade, enquanto o vírus se espalhar, ele continuará se transformando em novas variantes mais infecciosas, letais e resistentes a vacinas que ameaçam toda a humanidade. A menos que seja erradicada em escala mundial, as brasas da COVID-19 continuarão a arder e criarão as condições para que o vírus se reacenda de novo.

A defesa da eliminação pelo WSWS não se baseou em um pensamento utópico, mas em evidências científicas de que essa abordagem poderia ser implementada. A estratégia de eliminação mostrou-se altamente eficaz na China, uma sociedade de massa com mais de 1,4 bilhão de pessoas, bem como no Canadá Atlântico, na Nova Zelândia, em Cingapura e em vários outros países da região Ásia-Pacífico. Esses sucessos ocorreram a partir de março e abril de 2020, bem antes do desenvolvimento de vacinas. Depois de eliminar a COVID-19, esses países combateram com sucesso os repetidos surtos da variante Delta e outras importadas por meio de viagens internacionais.

Alguns dos participantes do webinário de 24 de outubro de 2021.

Nossa abordagem científica foi desenvolvida ainda mais através do webinário de 24 de outubro de 2021 “Como acabar com a pandemia”, que reuniu cientistas renomados e o WSWS para discutir a estratégia de erradicação. Isso foi seguido pela Investigação Mundial dos Trabalhadores sobre a Pandemia de COVID-19, lançada em 22 de novembro de 2021, para expor as políticas criminosas que levaram a milhões de mortes evitáveis.

A Investigação Mundial dos Trabalhadores foi uma iniciativa inovadora que documentou os crimes da classe dominante durante a pandemia. Ela coletou depoimentos de trabalhadores, cientistas e profissionais de saúde, compilou evidências de negligência governamental e má conduta corporativa e expôs as políticas deliberadas que levaram à morte em massa. Como explicamos na declaração que anunciou a Investigação:

Esta Investigação é necessária para combater o encobrimento, falsificações e desinformação que vêm sendo utilizados para justificar as políticas responsáveis por milhões de mortes evitáveis desde a detecção inicial do SARS-CoV-2.

O pioneirismo do governo Biden na política de “COVID para sempre”

À medida que a pandemia continuava, os governos capitalistas abandonavam cada vez mais até mesmo a pretensão de tentar controlar o vírus. Em vez disso, lançaram uma campanha de propaganda maciça para normalizar a infecção e a morte em massa.

Na Introdução ao Volume 1 de COVID, capitalismo e guerra de classe: uma cronologia social e política da pandemia, publicado originalmente em inglês em 20 de setembro de 2022, escrevemos:

A campanha de propaganda teve um impacto profundo na consciência das massas, desarmando centenas de milhões de pessoas em todo o mundo, incentivando-as a parar de usar máscaras e a abandonar a vigilância contra a ameaça contínua da COVID-19. O mantra que orienta essa política, repetido ad nauseam por políticos de todo o mundo, é que a sociedade deve “aprender a viver com o vírus”. De fato, esse slogan barato visa normalizar a morte e a debilitação perpétuas em massa.

O governo Biden continuou e aprofundou essa abordagem, culminando em uma política de “COVID para sempre” que permanece em vigor até hoje. Em um artigo de 26 de julho de 2022, observamos:

O povo americano não “aprendeu a viver com a COVID”; ele foi coagido a isso. Eles foram enganados, uma vez que elegeram um presidente que alegou “seguir a ciência”, mas que, na verdade, seguiu o dinheiro. As medidas necessárias para combater a pandemia estão em completo conflito com os interesses de lucro da elite financeira, então a saúde pública será sacrificada em prol da riqueza privada.

O abandono das medidas de saúde pública acelerou em 2023, culminando na declaração da OMS de 5 de maio de 2023, sobre o fim da Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional (ESPII) pela COVID-19. Na prática, a principal agência de saúde pública do mundo sancionou as alegações universais de que “a pandemia acabou”.

O demantelamento de todas as medidas de saúde pública para retardar a propagação da COVID-19 coincidiu com ataques intensificados à ciência e à normalização de concepções eugenistas em toda a classe dominante. A declaração de Ano Novo de 2024 do Conselho Editorial Internacional do WSWS resumiu esse processo com as seguintes palavras:

A adoção universal da “COVID para sempre” exigiu um renascimento das concepções eugenistas em todas as seções da classe dominante. Para justificar ondas perpétuas de infecção, debilitação e morte em massa, foi necessária a desvalorização da vida dos idosos e dos mais vulneráveis pela sociedade oficial…

A luta contra a pandemia foi minada por um ataque implacável à comunidade científica, incluindo ameaças físicas contra a vida de cientistas como Peter Hotez, uma campanha à qual o Partido Democrata se adaptou. Ao mesmo tempo, a educação pública encontra-se em um estado de queda livre após décadas de cortes orçamentários, que agora estão sendo agravados com o esgotamento de todos os fundos adicionais para a pandemia. Todos os avanços progressistas desde o Iluminismo, inclusive todos os princípios fundamentais da saúde pública, estão sendo revertidos por uma classe dominante que caminha rumo ao fascismo e à guerra nuclear.

Um aspecto fundamental da campanha de propaganda “vivendo com a COVID” tem sido a minimização deliberada da COVID longa, um complexo de sintomas debilitantes que podem persistir por meses ou anos após a infecção inicial.

Alguns dos sintomas mais comuns da COVID longa.

O WSWS tem lutado consistentemente pelo reconhecimento da COVID longa como um evento de debilitação em massa que exige uma resposta abrangente de saúde pública. Em um artigo de 26 de outubro de 2020, fomos um dos primeiros a relatar sistematicamente sobre os “COVID long-haulers” [pessoas com sintomas persistentes da COVID-19] e as evidências emergentes de que a COVID longa afeta crianças. Defendemos a ampliação da pesquisa, do apoio médico e da assistência econômica para os portadores da COVID longa, ao mesmo tempo em que expusemos como o impulso do capitalismo para “normalizar” a pandemia abandonou dezenas de milhões de pessoas para sofrerem isoladamente em todo o mundo.

A catastrófica suspensão da política de COVID Zero na China

A análise do CIQI sobre a política de COVID Zero da China e seu abandono em novembro de 2022 foi baseada em uma compreensão trotskista principista do caráter de classe burguesa do Estado chinês e das contradições do “socialismo com características chinesas”.

O WSWS foi a única publicação socialista do mundo a apoiar continuamente a política de COVID Zero da China e a defender sua extensão global. A submissão para a Investigação do artigo “A incompreendida – e deturpada – política de COVID Zero na China”, em dezembro de 2021, forneceu uma análise científica detalhada da abordagem da China, explicando como havia contido com sucesso o vírus enquanto os países capitalistas permitiram que a COVID-19 se espalhasse sem controle.

Em um artigo publicado em 15 de novembro de 2022, fomos o primeiro veículo de notícias a identificar corretamente que a China estava iniciando o fim da COVID Zero, uma política à qual nos opusemos veementemente e alertamos que seria desastrosa.

Pacientes recebem soro intravenoso na ala de emergência de um hospital de Pequim em 5 de janeiro de 2023.

Em uma Perspectiva de 16 de dezembro de 2022, o WSWS condenou o papel criminoso desempenhado pelas potências imperialistas ocidentais e suas mídias, assim como pelo Partido Comunista Chinês, na imposição desta política de morte em massa. Enfatizamos:

Não foi a população chinesa que pediu a suspensão da COVID Zero, mas o capital financeiro internacional e seus porta-vozes na mídia ocidental. Eles se empenharam nesse sentido e fizeram todo o possível para envenenar a opinião pública internacional contra as medidas de saúde pública da China.

Em uma série de duas partes publicada em março de 2023, expusemos como as tendências políticas de pseudoesquerda de classe média internacionalmente se juntaram ao coro exigindo que a China abandonasse a COVID Zero.

Isso marcou uma continuação e aprofundamento do apoio da pseudoesquerda à “imunidade de rebanho” durante toda a pandemia. A primeira indicação de sua abordagem profundamente reacionária foi a publicação da Jacobin, em setembro de 2020, de uma entrevista favorável com Martin Kulldorff, um dos coautores da Declaração de Great Barrington, que o WSWS caracterizou apropriadamente como um “manifesto da morte.”

Nossa oposição à suspensão da COVID Zero na China foi baseada na compreensão marxista de que, na época imperialista moderna, todos os problemas sociais e democráticos podem ser resolvidos fundamentalmente apenas por meio da revolução socialista mundial. Como escrevemos na série sobre o apoio dos pseudoesquerdistas à suspensão da COVID Zero na China:

A estratégia de saúde pública da COVID Zero não é, em si, nem mesmo uma política revolucionária, como demonstrado pela experiência na China, Nova Zelândia e outros países. No entanto, como Leon Trotsky deixou claro em sua exposição da teoria da revolução permanente, na época imperialista moderna, todos os problemas sociais e democráticos podem ser resolvidos fundamentalmente apenas por meio da revolução socialista mundial.

A resposta da classe trabalhadora à pandemia e a intervenção do CIQI

Ao longo da pandemia, as burocracias sindicais em todas as indústrias e países se recusaram a tomar qualquer ação em defesa das vidas e meios de subsistência dos trabalhadores. Elas facilitaram a homicida campanha de volta ao trabalho e abraçaram a propaganda anti-científica de “COVID para sempre” das elites dominantes e sua mídia, sem fazer nada para educar os trabalhadores sobre os perigos contínuos da COVID-19 e da COVID longa.

Em oposição a esses agentes corporativistas da classe capitalista, o WSWS e o CIQI buscaram armar a classe trabalhadora internacional com um programa revolucionário socialista para lutar pela saúde pública e defender suas vidas e interesses sociais. Em um dos primeiros exemplos disso, uma declaração do SEP (EUA) publicada em 14 de março de 2020, intitulada “Fechar a indústria automotiva para parar a propagação do coronavírus!”, foi lida por milhares de trabalhadores da indústria automotiva e ajudou a iniciar greves selvagens na região metropolitana de Detroit, que logo fecharam a indústria automotiva.

Uma iniciativa crítica tomada pelo CIQI para mobilizar a força independente da classe trabalhadora foi a luta para construir a Aliança Operária Internacional de Comitês de Base (AOI-CB). A declaração de fundação da AOI-CB, publicada originalmente em inglês em 23 de abril de 2021, enfatizou a importância central da pandemia, declarando:

A AOI-CB irá trabalhar para desenvolver a estrutura para novas formas de organizações de base independentes, democráticas e militantes de trabalhadores em fábricas, escolas e locais de trabalho em escala internacional. A classe trabalhadora está pronta para lutar. Mas está acorrentada a organizações burocráticas reacionárias que reprimem toda a expressão de resistência.

Ela será um meio pelo qual os trabalhadores do mundo inteiro poderão compartilhar informações e organizar uma luta em conjunto para exigir medidas de proteção, o fechamento de instalações inseguras e o da produção não essencial, e outras medidas de emergência que são necessárias para deter a propagação do vírus.

Nosso partido interveio diretamente em inúmeras lutas de trabalhadores contra condições inseguras em todo o mundo. Em maio de 2020, no auge da campanha de volta ao trabalho, emitimos uma declaração defendendo a criação de comitês de base em fábricas e locais de trabalho para impedir a transmissão do vírus da COVID-19 e salvar vidas. Isso levou à formação de comitês em fábricas de automóveis, escolas e outros locais de trabalho nos EUA e internacionalmente.

No setor educacional, o SEP (EUA) desempenhou um papel de liderança na organização de professores contra a reabertura criminosa de escolas — reconhecida desde cedo como um importante vetor de transmissão viral — sob Trump e depois Biden. Nossa declaração publicada originalmente em inglês em 8 de setembro de 2021, “Fechar as escolas nos EUA como parte da estratégia de erradicação da COVID-19!”, forneceu uma base científica para a oposição dos professores ao ensino presencial durante a pandemia. O Comitê de Segurança dos Educadores de Base, iniciado pelo SEP, organizou educadores em todo os EUA para lutar pelo ensino remoto e por condições de trabalho seguras, com a formação de mais de uma dúzia de comitês de educadores locais ou estaduais em todos os EUA.

Trabalhadores da saúde do Sri Lanka exigem melhores salários e equipamentos de proteção individual durante uma ação de greve em Colombo, Sri Lanka, sexta-feira, 8 de outubro de 2021. (AP Photo/Eranga Jayawardena)

Na Austrália, o SEP se opôs ao perigoso abandono pelos governos estaduais e federal de lockdowns parciais e fechamento de fronteiras no final de 2021, fazendo um chamado para a formação de comitês de base para se opor à reabertura insegura de escolas e locais de trabalho e para se juntar à luta global para eliminar a COVID-19.

No Reino Unido, o SEP apoiou educadores lutando contra a reabertura de escolas e ajudou a estabelecer o Comitê de Educadores de Base do Reino Unido. Comitês semelhantes foram construídos na Alemanha, Canadá, Brasil e internacionalmente.

A intervenção do SEP na luta de classes durante a pandemia foi guiada por uma compreensão marxista do papel do caráter objetivamente revolucionário da classe trabalhadora. Como explicamos em uma resolução publicada originalmente em inglês em 1˚ de agosto de 2020:

A pandemia de COVID-19 é um evento desencadeador na história mundial que está acelerando a já muito avançada crise econômica, social e política do sistema capitalista mundial. Ela está criando condições para uma imensa intensificação da luta de classes em escala internacional. A classe trabalhadora está diante de uma crise para a qual não há solução progressista fora de uma luta revolucionária contra o capitalismo, que leve à conquista do poder do Estado, ao estabelecimento do controle democrático pela classe trabalhadora sobre a economia, à substituição da anarquia do mercado pelo planejamento científico, ao fim do sistema de Estado-nação e à construção de uma sociedade socialista global dedicada à igualdade, à eliminação da pobreza e de todas as formas de opressão e discriminação, ao aumento massivo do padrão de vida e do nível de cultura social e à proteção do meio ambiente.

O retorno de Trump intensifica a guerra contra a ciência e a saúde pública

O retorno de Donald Trump à Casa Branca intensificou a guerra contra a ciência e a saúde pública como um componente central de sua agenda fascista. Em uma Perspectiva de 23 de janeiro de 2025, escrevemos: “O arquiteto inicial da horrível política de infecção em massa de ‘imunidade de rebanho’ em relação à pandemia da COVID-19, Trump está retomando de onde parou há quatro anos e escalando muito mais.”

Para levar a cabo essa agenda, Trump escolheu como secretário de Saúde o mais notório teórico da conspiração antivacina, Robert F. Kennedy Jr. Dizer que a raposa agora está guardando o galinheiro seria uma subavaliação grosseira. Antes de assumir o comando do que antes eram as principais agências de saúde pública do mundo, Kennedy ganhou milhões processando fabricantes de vacinas e as próprias agências que ele agora supervisiona, enquanto vendia livros que incentivam a hesitação em relação à vacina e concepções anticientíficas.

O presidente Donald Trump observa o juiz da Suprema Corte, Neil Gorsuch, empossar Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde e Serviços Humanos, enquanto sua esposa Cheryl Hines segura a Bíblia no Salão Oval da Casa Branca, em Washington, em 13 de fevereiro de 2025. [AP Photo/Alex Brandon]

Em estreita colaboração com o bilionário Elon Musk e seu Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), Kennedy e Trump estão se preparando para destruir completamente os últimos vestígios da saúde pública nos EUA, o que terá vastas implicações globais.

Apenas em seus dois primeiros meses, o governo Trump se retirou da OMS, impôs uma ordem de mordaça sem precedentes a todas as 13 agências do HHS, demitiu mais de 5.000 funcionários das agências do HHS, proibiu pesquisas sobre e forçou a limpeza de milhares de páginas nos sites do CDC, NIH, FDA e outras agências.

Só em seus primeiros dois meses, o governo Trump se retirou da OMS, impôs uma ordem de mordaça sem precedentes a todas as 13 agências do Departamento de Saúde e Serviços Humanos (HHS), demitiu mais de 5.000 funcionários das agências do HHS, proibiu pesquisas sobre vacinas e tecnologias revolucionárias de mRNA e forçou a remoção de milhares de páginas nos sites dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Institutos Nacionais da Saúde (NIH), Food and Drug Administration (FDA) e outras agências.

Em um artigo de 10 de fevereiro de 2025, notamos:

A guerra do governo Trump contra a saúde pública é uma estratégia deliberada para desmontar a governança baseada na ciência, suprimir a pesquisa médica e impor uma agenda ideológica extrema sobre a sociedade americana e, por extensão, sobre o resto do mundo. A supressão da pesquisa em saúde pública, a erosão da integridade científica por meio de think tanks de direita e o financiamento de publicações ideológicas que se disfarçam de revistas acadêmicas apontam para um esforço coordenado para enfraquecer a confiança pública na ciência.

A Perspectiva de 8 de fevereiro de 2025, “O ataque de Trump à saúde pública e a crescente ameaça de uma pandemia de gripe aviária do virus H5N1”, alertou que o desmantelamento da infraestrutura de saúde pública está ocorrendo exatamente quando a ameaça de novas pandemias está aparecendo, criando condições para catástrofes ainda maiores. A experiência da pandemia de COVID-19 deixou claro que, quando a próxima pandemia começar, ou se uma variante muito mais mortal do SARS-CoV-2 evoluir, as elites dominantes capitalistas não tolerarão quaisquer medidas de saúde pública, muito menos os lockdowns limitados que os trabalhadores forçaram que fossem implementados em março de 2020 e que salvaram milhões de vidas globalmente.

Conclusão

Ao entrarmos no sexto ano da pandemia, com novas ameaças, como a gripe aviária do vírus H5N1, no horizonte, a luta do CIQI por uma abordagem científica da saúde pública baseada nos princípios de eliminação e erradicação globais continua mais urgente do que nunca. Esta luta é inseparável da luta mais ampla contra o capitalismo e pela transformação socialista da sociedade.

Os próximos choques do governo Trump no domínio da saúde pública desestabilizarão ainda mais a sociedade americana e acelerarão a radicalização da classe trabalhadora. O CIQI continuará a lutar pela mobilização independente dos trabalhadores internacionalmente para acabar com a pandemia e construir uma sociedade que priorize a vida humana em detrimento do lucro.

No próximo período, o CIQI e o WSWS aprofundarão a luta por uma estratégia coordenada globalmente para eliminar a COVID-19 com base nos seguintes princípios:

  1. Pelo fim imediato da política de “COVID para sempre” e pela implementação de medidas de saúde pública com base científica! Isso requer a implantação universal de todas as medidas de saúde pública necessárias, incluindo testes em massa, rastreamento de contatos, isolamento seguro de pacientes infectados, uso de máscaras e a instalação segura de filtros HEPA e luz Far-UVC em todos os espaços públicos internos.
  2. Por um investimento maciço em pesquisa e desenvolvimento de vacinas e tratamentos de última geração! Isso requer a expropriação da indústria farmacêutica e a distribuição gratuita de vacinas e tratamentos em todo o mundo.
  3. Pelo controle dos trabalhadores sobre a segurança no local de trabalho por meio de comitês de base e pela construção da AOI-CB! A pandemia deixou bem claro que as burocracias sindicais não farão nada para proteger nenhum dos nossos direitos sociais, incluindo o direito mais básico à própria vida.
  4. Por uma ampla expansão da educação pública, não por sua destruição! A ciência e a saúde pública só podem ser defendidas e desenvolvidas por meio da formação da próxima geração em escolas totalmente financiadas e equipadas.
  5. Por uma reorganização fundamental da sociedade baseada em princípios socialistas! Esta é a única maneira de garantir que a saúde pública seja priorizada em detrimento do lucro privado e que as necessidades de todas as pessoas sejam atendidas.

Cinco anos após o início da pandemia de COVID-19, o mundo se encontra em um momento crítico. A pandemia acelerou todas as contradições do capitalismo global: o crescimento da desigualdade social, a intensificação das tensões imperialistas, o ataque aos direitos democráticos e a radicalização da classe trabalhadora. Ela confirmou a compreensão marxista de que o capitalismo é incompatível com os requisitos mais básicos da vida humana e do bem-estar social.

A resposta programática do CIQI à pandemia — baseada na mobilização independente da classe trabalhadora por meio de comitês de base, na luta por uma estratégia global de eliminação e na luta pelo socialismo — oferece o único caminho viável a seguir.

Fazemos um chamado aos trabalhadores e jovens de todo o mundo a se unirem a essa luta. Somente por meio da construção de um movimento socialista de massas da classe trabalhadora internacional a humanidade poderá pôr fim à pandemia de COVID-19 e prevenir futuras catástrofes. Junte-se ao Grupo Socialista pela Igualdade e assuma a luta por um mundo livre de doenças, exploração e guerra — um mundo socialista baseado nas necessidades humanas, não no lucro privado.